quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Modelo vencido

O que não se fizer por bem (ou como dizem hoje: de boa!), a natureza dá o destino...
E, não é revanche ou vingança, que são valores criados pelas ilações humanas.
É a natureza que incompreendemos e que consequentemente mistificamos.
Trato aqui do modelo de urbanização vencido.
Se habitar significa abrigo, proteção, então o sistema urbano vigente não cumpre sua primordial finalidade.
Sob diversos aspectos que o analisemos, vemos exatamente o contrário.
Especificando-se apenas um dos aspectos das possíveis análises: assistimos seguidas enchentes nos nossos centros urbanos.
Por que só pensamos em adiar as catástrofes anunciadas?
Criamos artifícios para esticar situações insustentáveis, por exemplo, em São Paulo os piscinões enterram uma montanha de recursos sabendo-se previamente que não é solução. É admirável, ou não é? Enquanto isso não gastamos um centavo no que tem que ser feito.
Enquanto mantivermos o sistema de utilização dos rios como condutores dos esgotos urbanos, alimentaremos a insustentabilidade da urbe. Uma urbe que não atende sua função.
Patrimônio material falido é o que esticamos. A idéia absurda é que a sujeira que não é vista não existe. Somos e nos reduzimos a avestruzes.
Pergunta a responder: Queremos continuar a ser avestruzes? (estes que me perdoem!)
Ao defendermos a posição de que, nesse aspecto, os nossos rios precisam emergir do subterrâneos e cumprir sua função de rio, apenas – o que não é pouco.
Um rio tem que ser um meio de vida e não de morte.
Essa posição, de que não arredo pé nunca, é tida, por uma imprensa comprometida com esse modelo vencido, como uma posição romântica.
Eu considero a posição dos que defendem esse modelo vencido de dramática, para não rotulá-la como de sado-masoquista.
Venceu, venceu, acabou-se!
Como trocar o pneu do carro andando? Foi a pergunta risível do repórter que entrevistou minha colega e contemporânea de estudo de urbanismo, Raquel Rolnik, de quem à distância conheço e adimiro a árdua luta para a quebra dos tais paradigmas vigentes.
Envio um recado aos que nos querem avestruzes: ou aprendemos a trocar o pneu do carro andando, ou o carro vai capotar! – Aliás, já está, infelizmente a capotar há bom tempo, se não percebemos ainda.
Vemos também o diálogo enveredar por uma questão: Verticalizar ou horizontalizar?
Verticalizar – tido como postura de abrandamento por uns – pode significar aumento da tal carga de esgoto numa rede que deveria apenas conduzir as águas pluviais.
O dilema parece difícil de ser resolvido: vertical ou horizontal? Qual é o caminho?
A pergunta é que não é a correta. Se for essa a questão, a resposta é fácil e triste de ser transmitida:
Nas condições atuais, tanto faz, ambas são péssimas. A conta virá.
O problema é o modelo de urbanização vencido.
O que vale no nosso modelo é ter, e não ser.
Quando realmente quisermos ser, as soluções serão facilmente implementadas.
Os rios serão rios, as águas servidas serão tratadas, ou pelo menos pré-tratadas antes de serem lançadas nos efluentes.
Romântico, mas plenamente realizável, por que não?
Nos dias de passeatas contra a ditadura imposta pelo golpe militar, jamais sonhei que o nosso país um dia pudesse sair das amarras do FMI, quanto mais emprestar dinheiro a ele!
E, é justamente no governo de quem disse que o caminho era um sonoro “cano” no FMI que assisto nosso país ancorar uma crise mundial. Impensável na minha juventude romântica...

Nenhum comentário: