sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Ignorância sobre as taipas - São Luiz do Paraitinga

IGNORÂNCIA

Mal que aflige a humanidade. Talvez o maior dos males...

(está movendo o mundo..., só não sabemos para onde..., mas, fazemos uma idéia...)
Assim, ocupamos espaços que não deveríamos ocupar, tais como: as várzeas e os cones de deslisamento, etc..
Por conta de nossa ignorância fazemos inúmeras besteiras e nos submetemos aos efeitos, muitas vezes, catastróficos que resultam em: motes de piadas quando o dano é pequeno, vide as videos cacetadas, e quando de grandes proporções, motivo de noticiários das emissoras de radiodifusão - (que em nossa sociedade de espetáculos fatura bem nesses eventos!).
Informar mal é perpetuar a indesejada ignorância.
Vai demorar, se é que em algum lugar ocorrerá, para vermos o que aconteceu realmente em São Luiz do Paraitinga.
Entretanto, antes de comentar os noticiários, consigo fazer uma justiça para com a imprensa:
Quando se noticiou que o pessoal do rafting foi herói no episódio, é verdade inconteste.
Não fossem esses heróis, talvez estivéssemos contando algumas perdas de vidas preciosas.
Concordo: eles foram heróis.
Porém, ouvi na sexta-feira dia 08 de janeiro quando lá estive, de quem jamais deveria ter feito, a afirmação de que a cidade estava destruída porque erigida com terra. (Para os mais ignorantes ainda, barro!)
Só para registro um pouco mais correto, vi nos escombros muita taipa, sim. Mas, também vi muitos tijolos, blocos cerâmicos, concreto e blocos de cimento. O desastre foi imenso!
Da biblioteca pública é lastimável a perda do acervo, em grande parte proveniente das doações do Prof. Aziz Nacib Ab'Saber. Menos lastimável foi a perda da edificação que não resistiu e ruiu. Esse prédio não tinha a ver com o patrimônio da cidade, nem na forma, única na praça fora do alinhamento do terreno, e nem dos materiais e técnicas construtivas: da estrutura em concreto, às paredes em tijolos comuns e tijolo baiano.
Registre-se para o futuro:
A imagem de N. S. das Mercês, em terracota, por exemplo, quebrou devido a choques, mas não derreteu com o longo contato com a água, como a ignorância talvez esperasse. A restauração dessa preciosa peça manterá sua autenticidade com relativa facilidade, graças ao bom trabalho de seu criador.


Existem Taipas e taipas:
As taipas com diversos traços para estabilização do solo foram submetidas a muitos e diversos ensaios no CEPA, como parcialmente mostram as poucas fotos abaixo:
Teste de ruptura de corpo de prova

O que interessa mais neste artigo foi o teste de imersão em água:
Algumas amostras realmente dissolveram-se...


Algumas apesar de muito úmidas, mantiveram a forma...
Outras, como essa abaixo, eleita para traço em nossas edificações no CEPA, apesar das 48 horas de imersão, ao final desse período ficou assim:


Algumas paredes do módulo iniciado em 2003 e que só agora concluímos, foram ao longo desse período submetidas às muitas chuvas sem proteção alguma.
Lá no CEPA nós ensinamos em cursos como fizemos!

SERÁ:
Será que a ignorância, que queimou gente inocente na fogueira, vai conseguir queimar também a taipa como material construtivo?
Será que teremos o mesmo espaço para divulgarmos o nosso trabalho?
(Não alimento esperança alguma, infelizmente)
Será que o resto do mundo onde se faz pesquisa dessa técnica construtiva, e, onde normas técnicas foram criadas, está errado?
Será que sempre será preciso perdermos muito para nos procuparmos um pouco com o nosso patrimônio cultural?
Será?

3 comentários:

Oficina disse...

Acredito que a arquitetura de terra está sendo redescoberta. A qualidade e durabilidade da edificação de taipa é enorme, a beleza e adequação cultural indiscutível. Acho muito legal a iniciativa do CEPA de abordar esse assunto e ajudar na divulgação dessa técnica milenar. Abraços! Maria Baptista

cmcm disse...

Caro Paulo,

A ignorância tem sido de facto uma arma poderosa contra todas as formas de arquitectura de terra. Infelizmente, esta é a mesma ignorância que se impõe também contra outras formas de arquitectura directa ou indirectamente ligadas a saberes tradicionais. O que, na minha opinião, nos revela a razão deste pensamento… Na mente de grande parte da população, o progresso encontra-se inevitavelmente ligado a edifícios concebidos à base de materiais que aparentam uma robustez invencível, mas que tantas vezes nos mostram a sua verdadeira fragilidade quando chega o momento de se debaterem por exemplo com a força da mãe Natureza (veja-se o caso lamentável do Haiti).
Sem querer aqui defender que a arquitectura de terra é a ÚNICA e mais eficaz solução construtiva de todos os tempos, até porque a sua aplicabilidade não é global (embora ande bem perto), acredito que é preciso deixar o preconceito de lado de uma vez por todas e aceitar que existem outras realidades tão ou mais viáveis que o cimento, betão, aço, etc. E já agora, reconhecer também que a terra como técnica construtiva habita o mundo há muito mais tempo que estes “novos” materiais, que têm até sido fonte de grande preocupação e dor de cabeça (sobretudo quando se analisam do ponto de vista do seu ciclo de vida).
Continue desse lado o excelente trabalho que tem vindo a desenvolver no sentido de promover as qualidades da construção em terra. Nós por aqui vamos também fazendo a nossa parte.

CM

Unknown disse...

preciso de um contato com o CEPA para outras informações úteis para São Luiz do Paraitinga, e particularmente sobre taipa.
escritorio.paraitinga@iphan.gov.br
Sergio Galeão